Vale Conhecer: Portugal

por Eduarda D’Agostini
(conteúdo publicado na Revista Terroir Boccati)

Na edição de primavera da Revista Terroir Boccati a coluna VALE CONHECER traz um pouquinho sobre “Portugal, dos brasileiros!”. Aqui no Blog da Boccati você confere esta interessante matéria.


PORTUGAL, DOS BRASILEIROS
Um dia o Brasil já pertenceu à Portugal. Mas hoje, sem dúvidas, essa relação se inverteu. Portugal está dominado por brasileiros. O número de brasileiros que visitam Portugal aumenta a cada ano, sejam viagens de turismo, de negócios ou até mesmo aqueles que vão com o objetivo de viver aí, seja por um tempo ou em definitivo.
Mas, não é só através do turismo que Portugal hoje depende do Brasil. Somos o principal cliente da exportação de vinhos. É mesmo, os vinhos portugueses caíram no gosto dos enófilos brasileiros. E juntando turismo e vinhos, nada melhor do que um programa de enoturismo pelo país.
Portugal é um país pequeno, porém com muitas regiões diferentes umas das outras. O clima, por exemplo, varia significativamente de região para região, sendo influenciado pelo relevo, altitude e proximidade com o mar. Consequentemente, encontra-se uma grande diversidade de paisagens a curta distância, e os vinhos e a gastronomia também sofrem essa influência.

Em Portugal a gastronomia é muito rica em variedade, tendo cada zona do país seus pratos típicos. O bacalhau, por exemplo, é um dos peixes mais consumidos, servindo como base para diversos pratos. Ainda há os queijos artesanais, a doçaria com uma enorme variedade de receitas e, é claro, os vinhos!

Portugal para os #winelovers
Portugal é um país que permite desfrutar de múltiplas experiências construídas ao redor do mundo do vinho. Viajando de carro é possível contemplar as paisagens das vinhas do país, espalhadas por todos os cantos, misturando-se com as belas oliveiras. Por isso, diferente do que estamos acostumados no Brasil, em Portugal a maioria das visitas às vinícolas não incluem o tradicional passeio aos vinhedos, pois eles estão por toda parte.
Com certeza não foi dos portugueses que herdamos nosso jogo de cintura e o jeitinho brasileiro de nada irá servir em Portugal se não organizarmos o roteiro da nossa viagem com antecedência. O enoturismo ainda é novo por aqui, algumas vinícolas estão mais avançadas e outras apenas iniciando. Por isso, é extremamente necessário agendar as visitas previamente para garantir uma ótima experiência. As visitas duram em média uma hora e meia, a maioria incluindo prova de vinhos e, apesar de o português de Portugal não ser exatamente como o nosso, fazer uma visita guiada em nosso idioma é um privilégio em poucas vinícolas no mundo.
Tive a oportunidade de visitar algumas vinícolas no país e compartilho um pouco com vocês, além de descrever as regiões e seus vinhos com o auxílio da minha amiga, e sommelier da Boccati, Luana Foscarini.



Alentejo
É a maior região vitivinícola de Portugal, cobrindo grande parte da metade sul do país. No verão, com temperaturas muito elevadas há perfeita maturação das uvas, proporcionando vinhos, em sua maioria, frutados e fáceis de beber.
O Alentejo apresenta-se como uma região em que seu desenvolvimento passa obrigatoriamente por dois pilares: Agricultura e Turismo. No ano de 2014, conquistou o título mundial de "Melhor Região Vinícola para Visitar", em um concurso promovido pelo jornal USA Today.
Nessa região, optei por visitar a Carmim (Cooperativa Agrícola), que foi criada em 1971 por um grupo de 60 viticultores da região. É a empresa que lidera o mercado nacional no segmento dos vinhos de qualidade, além de exportar 25% da sua produção para mais de 30 países, sendo o Brasil seu principal cliente.
A Carmim é a maior adega do Alentejo e uma das maiores do país. Hoje, são cerca de 900 associados que juntos possuem 3,6 mil hectares de vinha, de um total de 5 mil na região do Alentejo. A cooperativa produz e engarrafa seu próprio vinho do início ao fim e, além de vinhos, também produz azeites de qualidade.
Seu programa de enoturismo oferece visitas guiadas à adega, às caves e à linha de engarrafamento, além da paisagem que rodeia, prova de vinhos e petiscos regionais, finalizando na sua Wine Shop. Alguns programas especiais podem ser personalizados para visitante, incluindo participação na vindima (em setembro) e outras atividades na região.


Tejo
A região do Tejo é dividida por um extenso e imponente rio. Com solos arenosos, a produção por videira é baixa – o que traz mais qualidade às uvas, que amadurecem com maior facilidade e mais cedo. Afastada do rio, a região eleva-se numa zona mais seca e montanhosa. O vinho aqui produzido, em geral, é fácil de beber, com predominância para os tintos e roses frutados, além de alguns brancos mais aromáticos.
No Tejo, optei por visitar a Quinta do Casal Branco. Uma quinta pequena, porém bastante tradicional. São mais de 1,1 mil hectares de terreno e uma tradição agrícola e vinícola de mais de 200 anos, desde 1775 administrada pela família Cruz Sobral. As vinhas ocupam 140 hectares e possuem uma idade média de 30 anos. A quinta ainda produz azeites, doces caseiros e queijos tradicionais.
Na imensa planície do Vale do Tejo, o Casal Branco oferece visitas guiadas à adega, à vinha, à Coudelaria de Cavalos Puro Sangue Lusitano (famosos na região) e a seus belos jardins, além de provas de vinhos, almoços e jantares.
A quinta, além da ótima receptividade, apresenta a possibilidade de criar um pacote personalizado. São visitas mais exclusivas, construídas de acordo com o público. Desde o roteiro do passeio, que pode incluir visitação à casa da família, até a seleção dos produtos para a degustação, de acordo com o nível de conhecimento dos enófilos.


Península de Setúbal
A Península de Setúbal caracteriza-se por dois tipos de paisagens: relevo acentuado com solos argilo-calcários e terras planas, ou suavemente onduladas, com solos arenosos e perfeitamente adaptáveis à produção de uvas de alta qualidade. O clima é mediterrânico temperado: verões quentes e secos; invernos amemos e chuvosos. Seus vinhos brancos apresentam aromas florais e, os tintos, sabores suaves de frutos silvestres. O ícone Moscatel de Setúbal é um vinho de excelente qualidade, em especial quando envelhecido durante anos em barricas de carvalho.
Aqui visitei a Bacalhôa, uma das maiores e mais inovadoras vinícolas do país. Seus vinhedos estão presentes em 6 regiões: Alentejo, Setúbal, Lisboa, Bairrada, Dão e Douro, totalizando 1,2 mil hectares de vinhas em 40 quintas, além de seus 4 centros de produção.
A empresa aposta na inovação do setor, tanto na criação de vinhos únicos, como através do projeto “Arte, Vinho, Paixão”. Das vinhas ao vinho, todo o processo vitivinícola é envolvido em vários cenários que incluem a tradição e a modernidade, com exposições artísticas da pintura à escultura, além das obras naturais.
Na tradicional visita podemos conhecer a Adega e ao Museu Bacalhôa com três coleções de alto valor artístico. Ainda em Setúbal é possível visitar o Palácio da Bacalhôa, onde a arquitetura, a decoração e os jardins foram influenciados ao longo dos séculos pelos diferentes proprietários. Ambas as visitas incluem prova de vinhos.
Ainda é possível visitar a Bacalhôa em outras regiões:
Aliança Underground Museum: primeiro museu subterrâneo onde estagiam vinhos em harmonia com 8 coleções artísticas.
Quinta do Carmo: o centro de vinificação e produção de todos os vinhos alentejanos da Bacalhôa onde os visitantes têm a oportunidade de conhecer sua adega e fazer uma prova de vinhos.
Bacalhôa Buddha Eden.


Lisboa
A região que abriga a capital de Portugal também tem longa história viticultura. Conhecida anteriormente por região de Estremadura, possui boas condições para produzir vinhos de qualidade. São encontradas diversas castas de uvas que produzem vinhos leves, de mesa e licorosos, além de aguardente e espumantes.
Por curiosidade visitei aqui o Bacalhôa Buddha Eden, maior jardim oriental da Europa. São cerca de 35 hectares entre budas, estátuas e várias esculturas cuidadosamente colocadas entre a vegetação. Um local para apreciar a natureza em harmonia com a arte moderna. São mais de 200 esculturas dispostas sob a sombra de 1000 palmeiras e rodeadas pelos vinhedos da Quinta dos Loridos. É possível agendar provas de vinho, que são realizadas na adega antiga ou na encantadora loja de vinhos.


Bairrada
Região plana que se estende numa faixa litorânea a oeste do país, sofrendo grande influência marítima com chuvas abundantes e temperaturas medianas o ano todo. A Bairrada, apesar de tradicional na produção de vinhos brancos e tintos, foi uma das primeiras a explorar os espumantes, estilo que continua a ser o favorito da região. O clima fresco e úmido favorece sua elaboração, proporcionando uvas de acidez elevada a baixa graduação alcoólica.
Aqui visitei a Caves Messias, fundada em 1926, produtora de vinhos nas regiões: Bairrada, Douro, Dão, Vinho Verde e Vinho do Porto. A visita às caves é rápida, mas muito bonita. Podemos ver como a vinícola transformou um antigo tanque de vinho em adegas para armazenar seus produtos, além da bela loja e degustação de espumantes. É possível também visitar outras sedes da Messias, degustar um menu harmonizado com vinhos, passear nas vinhas e percorrer suas caves.

Vinho Verde
Aqui predominam as tonalidades verdes da vegetação exuberante típica de uma região com bastante humidade. A partir dessa região única e das suas castas nativas surge um vinho branco incomparável leve e fresco, jovem e deliciosamente aromático. Os Vinhos Alvarinho (encorpados e aromáticos, feitos a partir dessa delicada uva que lhe dá nome), são uma especialidade da sub-região de Monção e Melgaço, na parte norte da região do Vinho Verde.
Nessa região, pude conhecer a bela Quinta da Aveleda. Desde o século XVI, composta por um conjunto de quintas que passaram de mão em mão até que, em 1850, foi adquirida pela família Guedes, proprietária desde então. Nos anos 1950, já na 3ª geração familiar, foi o período em que a quinta mais se desenvolveu, investindo na construção de novos edifícios e engrandecendo seus jardins, tudo graças ao vertiginoso aumento das vendas de Vinho Verde para o Brasil.
A Aveleda possui 205 hectares de vinhas das quais 184 encontram-se no epicentro da Região dos Vinhos Verdes e os outros na Bairrada. Hoje, depois de muitos investimentos em tecnologia e recursos humanos, a Aveleda é a maior empresa exportadora de Vinho Verde e, com orgulho, se mantém como empresa familiar em todos seus aspectos. E esse ambiente familiar percebe-se durante a visitação à quinta.
Através do passeio é possível perceber nos mais pequenos detalhes fragmentos da história da quinta e da família Guedes. Além do seu importante património arquitetônico, é também conhecida pelos seus parques e jardins, onde florescem raras espécies de árvores, algumas centenárias. Um ambiente onde a fauna e a flora harmonizam-se perfeitamente. Foi assim que a Aveleda ganhou o prêmio internacional “Best of Wine Tourism” na categoria “Arquitetura, Parques e Jardins”, em 2011.

Douro
Localizado no nordeste de Portugal está o Vale do Douro, uma das regiões vinícolas mais importantes do mundo que ainda preservam a tradicional pisa das uvas. Dividida em três sub-regiões geográficas, Cima Corgo, Douro Superior e, na área mais ocidental, o Baixo Corgo, a mais fértil, fria e chuvosa, protegida da influência marinha pela Serra do Marão, produzindo vinhos um pouco mais leves. Os vinhos do Douro costumam ser mais elaborados e consequentemente mais caros, até mesmo os de entrada. Aqui também está localizada Vila Nova de Gaia, onde é feito o engarrafamento do famoso Vinho do Porto.

Beiras
É a região mais montanhosa e fria de Portugal, onde encontram-se algumas das serras mais altas do pais. O clima tem forte influência continental, com extremas variações de temperaturas, verões curtos, quentes e secos, e invernos prolongados e muito frios. Os solos são de origem granítica na sua maioria. Os vinhos são influenciados pelo terroir, resultando em vinhos brancos de grande exuberância aromática e muita frescura e, nos tintos, vinhos com aromas complexos a frutos silvestres e especiarias, aliados a uma frescura marcante. As adegas cooperativas produzem quase todo o vinho da região.

Dão
No Dão as vinhas situam-se entre 400 e 700m de altitude. É uma região rodeada por serras e cercado por montanhas, que a protegem dos ventos. Os solos são graníticos e suas vinhas são dispersas entre os pinheiros, em diferentes altitudes. As vinhas são esparsas e descontinuas, divididas em múltiplos lotes de pequenos proprietários. As montanhas determinam e condicionam o clima da região, abrigando as vinhas tanto da influência direta do clima continental como da influência marítima. O clima da região sofre múltiplas influências, seus invernos são frios e chuvosos e seus verões quentes e secos.

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