Vinhos Argentinos x Vinhos Chilenos
O Chile é um vasto repertório de microrregiões
Em linhas gerais é isso mesmo. Quase todas as vinícolas de prestígio
estão investindo em pesquisas, principalmente para achar o melhor terreno para
uma determinada variedade. O Chile possui uma vasta quantidade de microclimas e
de micro terrenos, toda essa diversidade permite um leque muito amplo de
possibilidades. Um Syrah do Vale de San Antonio (região bem fresca e próxima ao
mar) é bem diferente de um Syrah de Colchagua (mais quente e com menos
influência marítima). Parece que o Chile caminha para um firme autoconhecimento
de suas zonas vinícolas. Maipo, Casablanca, San Antonio, Colchagua são nomes de
regiões, porém já podem ser associados a um estilo de vinho. O melhor Carménère
de Colchagua possui uma paleta aromática de frutas negras, chocolate e quase
nada de herbáceo, por sua vez o Carménère no Vale de Maipo pode ter um toque
mais verde.
A Sauvignon Blanc parece viver um profundo caso de amor com o Valle de
Casablanca, porém San Antonio, que é ainda mais próxima ao mar, não fica nada
atrás. Cabernet Sauvignon e Merlot tem para todos os gostos, afinal são
plantadas em quase todas as regiões. Para a Syrah existem pelo menos duas
vertentes bem interessantes, a voluptuosidade de Colchagua contra os especiados
vinhos de Casablanca e San Antonio. O grande desafio parece ser a Carménère,
uva difícil e exigente que precisa de muita maturação. Sem sombra de dúvidas,
os melhores Carménère que provamos provinham de Colchagua.
Os vinhos chilenos, pelo menos aqueles de gama mais elevada, possuem
cada vez mais uma personalidade bem definida. Hoje, percebemos que os chilenos
possuem uma preocupação muito maior com a qualidade do seu produto. Essa
distinção é o grande trunfo do Chile e as melhores vinícolas sabem disso.
O vinho argentino e seu alter ego, a Malbec
É difícil falar de vinho argentino sem falar em Malbec, embora outras
variedades já figurem em papel de destaque. A questão é simples, a Malbec é tão
bem adaptada aos terrenos argentinos que poucos investem em outras uvas.
Segundo palavras de alguns chilenos “a Malbec parece que foi criada para a
Argentina”. Falando em Malbec, vale dizer que essa uva tem sofrido um certo
preconceito em rodas de connoiseurs. Considerada uva de apelo fácil, inadequada
para produzir vinhos refinados, é facilmente subestimada. Isso pode ser verdade
para os vinhos mais simples, mas não tem o menor traço de verdade quando
analisamos os rótulos das linhas premium. Provamos verdadeiras preciosidades de
Malbec, todos a partir de vinhas velhas com rendimentos baixíssimos. Nessas
condições a Malbec apresenta uma profundidade incrível, cheia de caráter e com
taninos inacreditáveis.
Mendoza não é só Malbec, provamos ótimos vinhos de Cabernet, Tempranillo
e Bonarda. Chamou a nossa atenção a qualidade de muitos Torrontés, cada dia
melhores e mais refinados.
Na Argentina, ao contrário do Chile, o clima e o terreno variam bem
menos, sendo assim, um dos principais fatores de diferenciação é a altitude. A
amplitude térmica de diferentes áreas produz vinhos com características
diferentes. Em Lunlunta (zona mais baixa e de menor amplitude) um Malbec pode
ter aromas de framboesa e notas florais intensas, já em La Consulta (zona mais
alta e de maior amplitude) a mesma Malbec é mais sutil, com frutas negras e
notas minerais. Essa diferença é a chave do terroir de Mendoza, bem aproveitada
rende vinhos de grande personalidade e distinção.
Chile x Argentina
É uma tarefa difícil dizer quem produz os melhores vinhos, até porque
não há muito sentido nessa comparação. Em primeiro lugar é preciso estabelecer
as diferenças, haja vista que as condições de produção (clima e terreno) são
distintas.
- O Chile possui um clima mediterrâneo, com influência marítima e
considerável variação de terreno em pequenas áreas.
- Por sua vez, a Argentina é um caso à parte, não possui influência do
mar, o clima é quase desértico e não existem muitas variações em pequenas
áreas.
São mundos completamente diferentes e, obviamente, com vinhos de estilos
variados. A grosso modo, os vinhos de elevado valor são excelentes em ambos os
países. Descendo um pouco de patamar, na faixa intermediária de preço, talvez o
Chile consiga oferecer uma maior variedade de estilos, mesmo que não sejam
melhores (nem piores) que os argentinos. Na faixa de preço mais baixa, os
vinhos argentinos conseguem um padrão de qualidade ligeiramente superior.
Fonte: QVinho
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